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sexta-feira, 8 de maio de 2020

PANDEMIA

Cinquenta e dois dias de quarentena, com raros intervalos de saídas necessárias para tarefas de sustentação da vida, como supermercado e farmácia, e nada mais.
E a irritante mensagem na tela da televisão, JUNTOS VAMOS VENCER.... VOCÊ NÃO ESTÁ SOZINHO.... 
Não tiro a importância de mensagens de valorização da vida e saúde mental, porém acho que ninguém percebeu que somos seres humanos aprisionados na nossa própria pele.
O que nos aconteceu foi que com o distanciamento social, os barulhos e distrações que nos rodeava e que usávamos para silenciar os gritos de nossa alma, foram abruptamente silenciados.
E nos pegamos tendo que olhar nos olhos da nossa fragilidade, da nossa mortalidade e dessa vida paralela entre o ser individual e o social.
Se não estamos sozinhos dentro de uma casa, fomos reduzidos a conviver vinte e quatro horas com núcleo familiar pequeno, com uma pessoa que escolhemos nos casar, com os filhos que foram gerados por esta união, e como eu, com um irmão que recebi de herança (rsrsrs) com o falecimento dos meus pais.
Estamos sendo colocados a prova, e nossos olhos ficaram mais atentos, pois não há a correria do trânsito, os horários precisos, a divisão britânica do nosso tempo. Não está mais dando para das 08 as 18 horas sermos profissionais, das 19 as 24 horas sermos pais e das 24 as 06 horas da manhã sermos marido e esposa, e entre um horário e outro, um segundinho para pensarmos e fazermos um exame de consciência se estamos sendo bons o suficiente nessas tarefas.
Agora somos tudo em todas as horas, não há divisão, não há escapatória, e muitas vezes nos pegamos imaginando se somos suficientes para essas tarefas.
Tarefas, esse nome que nos pesa no coração, não somos cumpridores de tarefas e rotinas, fomos chamados agora a olharmos dentro de nós e nos enxergarmos como seres humanos, e sentirmos a nossa fragilidade e medirmos a nossa coragem.
Quando silenciamos o barulho ensurdecedor da rotina pré-estabelecida, e começamos a ouvir as batidas de nosso coração, e os sons de nossa vida individual e solitária, que está dentro desse nosso corpo mortal, vamos descobrindo belezas que antes não tínhamos tempo de ver.
Somos belos, fomos criados para a bondade, somos forjados para sermos esguios e flexíveis como pés de bambu, que a ventania forte não consegue quebrar.
Eu sei, você falará: veja esses políticos que tentam nos puxar para todos os lados, para esses comerciantes que querem levar vantagem, veja como está havendo muitos assaltos e mortes nesse tempo. Estão morrendo milhares de pessoas com um vírus que ninguém consegue domar.
Mas isso não tira o propósito para que fomos criados, fomos criados para sermos bons, mas alguns escolhem o outro caminho... as vezes o mais fácil... sem grandes provas de coragem... simplesmente vão vivendo para levar vantagem e não vendo que estão em desvantagem.
Não nos foi prometido um caminho fácil, só nos foi prometido que seria um caminho de paz interior, onde teríamos que ter coragem, fraternidade, solidariedade e principalmente amor.
Então convido a todos a se olharem sem medo e se descobrir belo, e essa beleza não está na perfeição, ela se encontra na fragilidade caminhando junto com a coragem, com as lágrimas sendo enxugadas pelo sorriso, de um caminhar sereno mesmo no meio das atribulações, e talvez ali, ao virarmos a esquina do caminho da vida, a pandemia já terá passado e nos tornados mais fortes, mais amorosos, mais pacientes.... mais humanos...

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